segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Por que Deus inspirou textos difíceis?

Essa postagem é formada por anotações do capítulo homônimo encontradas no livro "Irmãos, nós não somos profissionais", do pastor e escritor John Piper. Ela constitui uma introdução ao assunto que quero trabalhar durante algum tempo: Por que Deus inspirou textos difíceis? Para melhor leitura e reflexão, dividimos essas breves anotações. Que Deus abençoe a você com o texto abaixo. Abraço e boa leitura!

Você já se deparou com a explicação de que entenderímos mais a Bíblia se "fôssemos mais espirituais, e mais dóceis" (p. 115)? Isso é parcialmente verdadeiro. Nas páginas do Santo Livro, encontramos pessoas a que julgamos bem mais espirituais que nós e, ainda sim, dizem não entender certos trechos. De quem estamos falando? Simplesmente do apóstolo Pedro que está incluído no seleto grupo de autores abençoados por Deus com a graça da Inspiração em duas obras: 1a. e 2a. Epístolas de Pedro.

"e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles." (2a. Pe 3.15-16)

Ao abordar esse tema, poderíamos perguntar: "Mas, Senhor, por que não escreveste tua Palavra de forma mais simples, para todos podermos entender tudo, de uma primeira sentada de leitura?". Pedro, conforme observa Piper (Ibidem), afirma quatro verdades sobre a Inspiração das Escrituras, no contexto da passagem, das cartas paulinas especificamente. Estas verdades precisam ser (re-)afirmadas a fim de respondermos a questão que intitula essa postagem.

Primeiramente, o que Paulo escreve é fruto da "sabedoria que lhe foi dada". Nessa construção verbal, o agente da voz passiva está omisso. No entanto, como Wallace (p. 435-437) declara há, pelo menos, oito motivos por que o agente da passiva, a pessoa por trás da ação, seria omitida em uma frase, e uma delas é "O agente oculto da ação está frequentemente óbvio no contexto ou na pré-compreensão de um público leitor" (Ibidem, p.435). Os autores vétero e neotestamentário escreveram guiado por Deus.

Em segundo lugar, os escritos paulinos estão no mesmo nível das Escrituras do AT: "em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles". No trecho em destaque o argumento de Pedro é: as cartas paulinas são deturpadas como as demais Escrituras. Indiretamente, ele diz: o que Paulo escreve também é inspirado como o AT e que aqueles escritos sofrem deturpações como estes. 

Para aqueles que questionam isso, afirmando ser isso um exagero de Pedro, é bom lembrar que Paulo possuía uma opinião parecida sobre a atualidade da Inspiração em seus dias quando compara trechos da Lei com ditos do Senhor Jesus: "Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário". Na primeira parte em destaque, Paulo cita Dt 25:4, e acrescenta uma declaração afirmando que a mesma também é Escritura, ou seja, Palavra de Deus. Para isso ele usa a expressão: "E ainda". Ele está fazendo uso de uma citação de Jesus conservada nos evangelhos de Mateus (10:10) e Lucas (10:7). Ou seja, ele põe citações de ambos os testamentos em pé de igualdade!

Apesar de tudo isso, havia pontos "difíceis de entender" no que ele escrevera. Deus, o perfeito Comunicador, conduziu o processo da escrita de sua Palavra e inseriu nela material que exigiria esforço para os leitores alcançarem!

Finalmente, tais pontos "difíceis de entender" já eram conhecidos pela primeira geração cristã. Então, quando nos desesperamos ao ler, estudar, fazer exegese, pregar nos textos paulinos e em outras passagens para nós obscuras (Pois é, Paulo não é o único a quem atribuímos o luxo de ser incompreensível em certos pontos!!!), estamos compartilhando da verdade contida nesse texto.

Se alguém, resolveu fechar sua Bíblia e deixar de lado seu bloco da anotações ou editor de texto, porque se deparou com um texto obscuro, é bom reabri-la e retornar às suas anotações.

Deus tem muito trabalho para nós...

Quero encerrar com as palavras de C.S. Lewis sobre as dificuldades inerentes ao que se candidatam a seguidores de Cristo:

"Deus não detesta menos os intelectualmente preguiçosos do que qualquer outro tipo de preguiçoso. Se você está pensando em se tornar cristão, eu lhe aviso que estará embarcando em algo que vai ocupar toda a sua pessoa, inclusive o cérebro. Felizmente, existe uma compensação. Aquele que se esforça honestamente para ser cristão logo percebe que sua inteligência está aprimorada. Um dos motivos pelos quais não é necessário grande estudo para se tornar cristão é que o cristianismo é em si mesmo uma educação" (Lewis apud Piper, Ibidem, p. 113).


Até a segunda parte dessa postagem!



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


PIPER, John. Irmãos, Nós Não Somos Profissionais - Um apelo aos pastores para ter um ministério radical.  São Paulo: Shedd Publicações, 2009.
WALLACE, Daniel B. Greek Grammar Beyond the Basics. Grand Rapids: Zodervan.

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