sexta-feira, 30 de março de 2012

Tradutores da Bíblia: William Carey (1761-1834)


PRIMEiROS ANOS
William Carey nasceu em 17 de agosto de 1761, em Paulerspury, na província de Northampton, Inglaterra.
Ainda que sua infância tenha ocorrido em um ambiente rural que não refletia as grandes coisas que Deus realizaria através de sua vida. Carey tinha uma insaciável sede de conhecimentos e uma indomável perseverança para alcançar seus objetivos. Qualquer livro que caía em suas mãos era devorado e assimilado. Ele chegou ao ponto de familiarizar-se na adolescência com o latim e, enquanto trabalhava como sapateiro, aprendeu grego.
De fato, sua oficina de sapateiro foi também o local onde Deus o moldava para o trabalho preparado para ele. Ali adquiriu um profundo conhecimento de Bíblia e também de geografia universal e de religiões comparadas. Tudo o que seria de grande utilidade nos anos vindouros.
 CONVERSão
Um dos companheiros de oficina na sapataria era William Ward, pertencente a um dos grupos dissidentes da Igreja Anglicana. As discussões entre os dois jovens eram prolongadas, defendendo cada um seu ponto de vista. Entretanto, Carey percebeu que a fé de seu amigo era muito mais arraigada que a sua e, atendendo a um convite para assistir a uma de suas reuniões, entrou em contato com a igreja a que seu amigo pertencia. Ali, ocorreu sua conversão que modificaria toda a sua vida.
O fato de estas igrejas dissidentes serem simpatizantes da revolução americana foi outro fator para que Carey se identificasse com tais igrejas, pois possuía a mesma ideia. A conservadora Igreja Anglicana se opunha por princípio a qualquer modificação no "status" das colônias na Nova Inglaterra.
 CREsCIMENTO
Depois de sua conversão conheceu a dois destacados batistas, John Ryland e Andrew Fuller, sendo batizado pelo primeiro e tornando-se membro de uma Igreja Batista. Em pouco tempo, devido a seu crescimento e dons, Carey passou a ser solicitado como pregador por distintos grupos pequenos. Por isso, foi convidado a tornar-se pastor da igreja de Moulton.
 INFLUêNCIAS NOTáveiS
Em 1781, casou-se com Doroteia Placket com a qual teve uma numerosa família. Nesse tempo, Carey já conhecia latim, grego, hebraico, italiano, alemão e francês. Porém, a paixão de Carey eram as missões. Vários fatores influenciaram sua vocação:
·    O avivamento que estava sacudindo a Inglaterra por meio do ministério de John Wesley preparava o terreno para o movimento missionário;
·    Um tio de Carey era marinheiro e com uma grande gama de experiências em outros países, que lhes despertou o interesse pelas viagens e para conhecer outras culturas;
·    Foram parar em suas mãos os diários de John Eliot e David Brainerd (ambos missionários entre os índios);
·    Outro livro que influenciou decisivamente a Carey foi: "As viagens do capitão Cook", no qual o descobridor inglês narra suas aventuras pelas ilhas do Pacífico.
Todos estes fatores representaram um papel importante no futuro missionário, porém, em especial, a Bíblia deixava claro a responsabilidade dos cristãos em levar as boas novas aos que ainda não havia escutado.
 ESPERe GRANDES COiSAS DE DeuS,
faça GRANDES COiSAS PARA ele
No dia 30 de maio de 1792, diante de uma convenção de pastores batistas, pregou seu famoso sermão baseado em Isaías 54:2,3: “Alarga o espaço da tua tenda; estenda-se o toldo da tua habitação, e não o impeças; alonga as tuas cordas e firma bem as tuas estacas. Porque transbordarás...”.
A proposição deste sermão era: “espere grandes coisas de Deus, faça grandes coisas para ele”. Apesar das indiferenças de alguns dos presentes, John Ryland entre outros, o impacto do sermão foi tal, que ali começou o que mais tarde foi chamado de Era das Missões Modernas. No dia 13 de junho de 1793, Carey partia para a Índia.
 PAGANISMO NA íNDIA
A extensão do cristianismo na Índia estava reduzida praticamente aos europeus que ali viviam por interesses comerciais. A pobreza, ignorância e superstição eram muito difundidas. O sistema de castas tinha raízes imemoriais. Exemplos de tais costumes pagãos eram: arremessar crianças no rio Ganges, como oferenda ao rio sagrado e ou viúvas na fogueira onde o marido recém-falecido estava sendo incinerado.
PRIMEiROS AnOS COMO MIsSIONáRiO
Por seis anos, Carey esteve trabalhando em uma plantação de índigo[1] ao norte de Calcutá. Ali aprendeu bengali e traduziu o Novo Testamento para essa língua. Além disso, preparou uma gramática e um dicionário da mesma.  A facilidade para os idiomas que possuía, chegou a ser uma abençoada forma de realizar sua tarefa. 
Todavia, ao mesmo tempo em provações vinham sobre sua família: seu filho de cinco anos morreu em consequência de febres contínuas, enquanto sua esposa não se adaptava às dificuldades no novo país.
 O TRiO DE SERAMPORE
Em 1800, Carey mudou-se para Serampore onde permaneceria por trinta e nove anos. Ali, uniu-se a outros dois missionários que estariam com ele até o final de sua vida. Essa parceria ficaria conhecida como "O Trio de Serampore". Um deles era William Ward, especialista em imprensa, e o outro Joshua Marshman, especialista en linguística. Sem dúvida, este trio missionário foi uma das mais sólidas e frutíferas equipes missionárias.
 TRADUziNDO A BíBLIA
A estas alturas, Carey já dominava o bengali, o sânscrito e outros idiomas da região e entre suas prioridades estratégicas estava a tradução da Bíblia para a língua materna daqueles povos. Em trinta anos, a Bíblia foi traduzida para seis línguas, sendo Carey o responsável pela tradução para o bengali, sânscrito e marathi.
Além disso, o Novo Testamento foi traduzido para vinte e três línguas e porções escolhidas das Escrituras para outras línguas. Sem dúvida, o trabalho da tradução da Bíblia foi fundamental na obra de Carey na Índia.


 A JORNADA DIáRIA DE Um TRADUTOR
       De uma de suas cartas, podemos fazer uma ideia de como era um dia qualquer em seu trabalho de tradução:
Levantei-me esta manhã às quinze para as seis, li um capítulo na Bíblia hebraica, e passei o tempo em oração particular a Deus até as sete. Logo, dirigi o culto familiar com os criados em bengali.
Enquanto preparavam o chá, li um pouco em persa com um manshi e, antes de almoçar, fiz o mesmo, mas em hindustani. Quando acabei de almoçar, fui trabalhar com um pandit na tradução do texto de Ramayana em sânscrito. Às dez horas, fui ao Colégio onde estive até as duas.
Voltei para casa, examinei uma prova da tradução de Jeremias para o bengali, o que fiz até a hora de comer. Depois de comer, traduzi para o sânscrito, com a ajuda do pandit principal do Colégio, a maior parte do capítulo oito do evangelho de Mateus.
Depois das seis, sentei-me um pandit telingi para aprender este idioma. Às sete, comecei a reunir uns poucos pensamentos na forma de um sermão e preguei  até as sete e meia. Havia cerca de quarenta pessoas presentes. Depois do sermão, sentei- me e traduzi o capítulo onze de Ezequiel para o bengali até quase às onze da noite.
 A IMPORTâNCIA DA LíNGUA MATERNA
Um dado significante que nos mostra o tamanho de sua sensibilidade quanto a esse assunto é: Quando foi nomeado professor de idiomas no Colégio Fort William em Calcutá, onde se formariam os principais futuros dirigentes da Índia, Carey percebeu de que as classes superiores estavam acostumadas ao sânscrito e tinham o bengali como língua vulgar, associada às castas mais baixas da nação. Por isso, traduziu seus materiais de ensino do inglês para o sânscrito, consciente da necessidade de alcançar às pessoas no idioma de seu coração.
Com a idade de setenta e três anos, Carey deixava a Índia e esta vida. Com referência a primeira, ele havia dito: "Nunca tive a ideia de regressar a Inglaterra... meu coração se casou com a Índia".


Acesso em 17 de fevereiro de 2012, às 18:40 horas
Traduzido por Marcos Paulo da Silva Soares
Usado com permissão.


[1] Indigofera suffruticosa é uma espécie vegetal da família Fabaceae, também conhecida como anileira ou pelo seu antigo nome Indigofera anil. É usada como matéria para obter o anil (N. do Trad.).

sexta-feira, 23 de março de 2012

Credo Linguístico

Por Benjamin F. Elson[1]

Nós cremos que a língua é um dos mais importantes dons de Deus para a humanidade. De todas as características humanas, a língua é mais distintamente humana e a mais básica delas. Sem a língua, não existiria a cultura e civilização.

Cremos também que qualquer língua é capaz de ser veículo da complicada interação humana e dos pensamentos complexos. Ela é também o alicerce para uma cultura e civilização complexas.

Portanto, todas as línguas devem ser respeitadas e estudadas cuidadosamente.

Como a mais singular das características humanas que uma pessoa tem, a língua está associada à autoimagem de seu falante. Interessar-se pela língua de uma pessoa e apreciá-la equivale a admirar e apreciar a própria pessoa.

Todas as línguas são dignas de preservação na forma escrita através de gramáticas, dicionários e textos escritos. Isso seria feito com parte da herança da raça humana.

Todo grupo linguístico deve ter sua língua impressa e ter alguma literatura escrita na mesma.

Grupos linguísticos minoritários em grandes nações devem ter a chance de aprender a falar, ler e escrever em sua língua nacional.


Fonte: http://www.sil.org/sil/linguistic_creed.htm
Acesso em 19 de fevereiro de 2012, às 18:00 horas
Traduzido por Marcos Paulo da Silva Soares



[1] Tradutor de parte da Bíblia para a língua popoluca, no México.

Tradutores da Bíblia: William Cameron Townsend (1896-1982)


 
Cameron Townsend, "tio Cam" para seus amigos, nasceu na Califónia em um período economicamente difícil. Sua família era presbiteriana e em seu segundo ano de estudos na Universidade ouviu uma palestra dada pelo famoso missionário John R. Mott. No ano seguinte, envolveu-se com a Casa Bíblica de Los Ángeles como colportor para distribuir a Bíblia na América Latina.
Na Guatemala, em 1917, Cameron Townsend terá um encontro que mudará para sempre sua vida. Andando por uma área pertencente aos cakchiquels, ofereceu aos mesmos uma Bíblia em castelhano. O índio lhe fez a seguinte pergunta: "Se teu Deus é tão inteligente, por que ele não fala minha língua?". Esta pergunta fez com que Cameron dedicasse os seguintes treze anos de sua vida aos índios cakchiquels.

No entanto, a dificuldade da língua cakchiquel era enorme: o sistema verbal era muito complexo e parecia uma tarefa impossível de levar a cabo. Porém, aqui surgiu o conselho de um arqueólogo, que lhe disse que deixasse de pensar em padrões latinos para o idioma cakchiquel e buscasse o método lógico intrínseco a esse idioma. Este conselho deu certo e, em 1929, Cameron concluiu a tradução do Novo Testamento em cakchiquel.
A missão com a qual estava associado não dava importância à tradução da Bíblia. Para eles, Cameron devia evangelizar e edificar aos crentes. Porém, a esta altura, ele já estava decidido a consagrar sua vida à tarefa de traduzir a Bíblia para as línguas não- alcançadas. Foi assim que, em 1934, ele e L. L. Legters fundaram o Acampamento Wycliffe que seria o começo da maior organização missionária protestante e independente do mundo, Wycliffe Bible Translators, e de sua filial Summer Institute of Linguistics (SIL).
Com o tempo fez amizade com o Presidente do México, Lázaro Cárdenas, que estava entusiasmado com a tarefa que os tradutores estavam fazendo. Cárdenas solicitou a Cameron que enviasse mais linguistas para dotarem os muitos idiomas indígenas existentes no México de uma forma escrita. Abriu-se uma porta aberta que eles tinham que aproveitar. Depois disso, Cameron passou 17 anos no Peru e logo mudou-se para a Colômbia para seguir no trabalho de tradução.
Sua filosofia pode ser resumida nesta frase:

"O melhor missionário é a Bíblia na língua materna.
Nunca necessita de férias
e  nunca será considerada um estrangeiro".


Trecho da Bíblia em Cakchiquel 
 

Acesso em 17 de fevereiro de 2012, às 18:08 horas
Traduzido por Marcos Paulo da Silva Soares
Usado com permissão. 

P.S.: Caso tenha interesse em conhecer a língua cakchiquel, veja Gramática Cakchiquel

domingo, 11 de março de 2012

CRÔNICA DE UMA TRADUÇÃO BÍBLICA


Finalizações freqüentemente nos trazem alívio e alegria.
Especialmente aquelas que são fruto de uma longa espera.
  
Estamos particularmente alegres nestes dias pela conclusão do processo de tradução do Novo Testamento para a língua Limonkpeln, um dos dialetos do povo Konkomba em Gana na África. A figura que me vêm à mente neste momento é do início, quando Labuer e eu sentávamos embaixo de uma árvore próximo à minha casa e durante 3 ou 4 horas por dia trabalhávamos na ortografia da língua Limonkpeln visando, na época, apenas fazer uma cartilha e alfabetizar o povo em sua própria língua.
Foram 7 anos e meio de trabalho, um trabalho silencioso e sem resultados empolgantes durante o seu processo. No início os Konkombas não entendiam o porquê de horas e horas sobre um computador, rodeado de livros e com olhar pensativo. Ficavam a me observar durante o dia, de longe, sussurrando baixinho um com o outro.
Aos poucos a Igreja nasceu e alguns rascunhos eram usados. Aprenderam a amar a Palavra e inúmeras perguntas surgiam a cada dia. Os resumidos capítulos em mãos tornaram-se rapidamente insuficientes para a demanda espiritual. Publicamos então Mateus, Atos e Romanos que foram recebidos com expectativa. Memorizavam textos inteiros, discutiam as aplicações em reuniões sem fim. A Igreja, vendo nosso esforço, se autodesafiou a cooperar. Começou a orar e também jejuar para que tivesse a Palavra na língua, o Novo Testamento completo. Passei a me sentir constrangido (e às vezes acuado) quando resolvia tirar uma tarde livre para brincar com as crianças. A Igreja, em uma mensagem silenciosa, parecia censurar-me. Afinal a prioridade deveria ser trabalhar na tradução. Apenas o plantio de igrejas, que fazíamos em viagens pela região, sobrepunha o anseio da tradução. Era necessário progredir.
Em 1997 os lideres da Igreja Konkomba-Limonkpeln resolveram se envolver diretamente no processo. Sabiam que eu possuía um ajudante lingüístico, com tempo parcial. Decidiram 'separar' outros 3 com tempo integral. Cuidariam de suas roças daquele tempo em diante para que se dedicassem às correções do texto. Estes quatro amigos abençoados (Labuer, Balabon, Tiagri e Naason) tomaram paixão pelo trabalho e também aprenderam a trabalhar dia e noite. Creio que, nestes últimos 7 anos e meio, jamais houve um dia sem que se trabalhasse no texto do novo testamento.
Rossana e as crianças sempre foram benevolentes com meu tempo usado na tradução. Até hoje Ronaldo Junior , quando indagado onde estou prontamente responde: "papai está no computador fazendo uma bíblia", não importa o que eu de fato esteja fazendo. Eu procurava sempre concentrar o trabalho a noite depois que todos dormiam. Era mais fresco e havia a quietude necessária.
Outro dia juntei todo o material utilizado na tradução, desde a tradução primária até a retro-tradução passando pelas 5 correções gerais. São pilhas e pilhas de papéis, centenas de e-mails trocados com consultores, inúmeras cartas em português, inglês, Konkomba, mais de 30 livros de consulta utilizados. O resultado cabe na palma da mão, em apenas um CD. Interessante.
O período de tradução foi edificante, mas também houve oposição. Alguma humana, outra de fundo espiritual entretanto, mais frequentemente, física. Hoje percebo que as constantes malárias forçaram-me a permanecer mais em nossa aldeia, minimizar as viagens. Talvez a prioridade do Senhor fosse a tradução naqueles 4 anos quando desejava evangelizar mais o Togo distante mas a perseverante febre fazia-me permanecer na aldeia.
Houve também um momento de humilhação, algo que é doloroso no momento mas sempre nos relembra que somos apenas servos e nos remetendo à máxima de que aprendemos mais com as críticas do que com os elogios. Alguns lingüistas visitaram-nos duvidosos dos resultados rápidos da tradução quando finalizávamos Romanos. Pediram permissão para fazer uma espécie de auditoria de todo o trabalho e assim levaram os disquetes, livros, escritos, notas, tudo. As semanas seguintes foram constrangedoras, respondendo mil perguntas, sempre me sentindo como uma criança no primário sendo investigada pela diretora da escola. Passaram os textos por diferentes crivos e finalmente veio a aprovação do trabalho.
O resultado final foi positivo e perceberam que o motivo do rápido trabalho foi mais o irrevogável apoio da Igreja Konkomba e milhares de noites de sono reduzido da equipe de tradução do que imediatismo ou qualquer brilhantismo pessoal.
Entretanto confesso que sempre houve pressa, e muita pressa. Quem não a teria com uma Igreja orando e jejuando pelo trabalho, que a cada dia repetia, incansável, a torturante pergunta: “Quando acha que finalmente terminará o trabalho e teremos a Palavra de Deus ?".
A força da Igreja Konkomba mostrou-se viva nesta última correção. Eu precisava que a equipe de correção fizesse uma última leitura do texto, minuciosa. Assim a Igreja separou uma casa e a preparou com o cenário de quietude necessário para o trabalho, pedindo para que, durante um mês, ninguém se aproximasse. Trouxe os 4 ajudantes lingüísticos que ali permaneceriam durante 3 semanas e meia. Apontaram mulheres da Igreja que cozinhavam muito bem e proveram o alimento necessário, do melhor. Assim, praticamente isolaram este grupo nesta casa até completarem a tarefa, cobrindo-os de oração.
Dentre tantos colaboradores um primeiro precisa ser mencionado. Rev. Francisco Leonardo Schalkwijk era diretor do Seminário Presbiteriano do Norte quando logo no início do curso abordou-me com a pergunta: "Você quer ser missionário entre povos sem o evangelho?" Após ouvir uma temerosa resposta positiva passou-me a dar preciosos conselhos. Dentre vários, um deles ficou no coração: "estude bem o grego e assim você economizará anos de trabalho na tradução". Um outro colaborador silencioso foi Mebá, primeiro convertido entre os Konkomba-Limonkpeln. A cada texto lido , durante as correções, ele sempre interrompia dizendo, benevolente: "Está muito bom e todos vão entender, mas se utilizasse esta ou aquela expressão ficaria parecendo que foi escrito por um Konkomba...”.
Falemos do presente. O sentimento ao entregar o texto é surreal. Pensava que seria algo entre a alegria e o alívio, mas foi sobretudo de temor. E se eu pudesse melhorar a expressão usada para 'longanimidade'? Será que não é imprudência optar para 'sacrifício' o termo que historicamente tem sido utilizado no animismo fetichista? E ainda 'Espírito Santo' que, explicativamente, teve que ser 'Espírito que é puro e é pessoa, não apenas força' certamente ficou longo em uma cultura onde a maioria dos espíritos não é personificação mas sim energia impessoal. A numerologia bíblica em uma língua onde se conta até 500 (e depois disto as regras mudam para um discurso binário extenso) torna-se muito extensa. Os "144.000" de Apocalipse 14 tomaram 5 linhas.
O Konkomba-Limonkpeln é uma das três principais línguas do povo Bikpakpaln, conhecido como "Konkomba" pelos de fora. De fato este não é um termo usado ou mesmo conhecido pela maioria para se identificar. Eles habitam as savanas no nordeste de Gana e noroeste do Togo. Formam etnias fortes, com grave valorização da cultura e orgulho de sua língua. No país são conhecidos como "Tiwoor aanib", ou 'povo do mato' por preferir se isolar em regiões mais distantes. No imaginário popular são agressivos e senhores de guerras mas de fato são extremamente hospitaleiros e leais. Para eles a maior vergonha é mentir. A maior virtude honrar os pais quando já velhos e lembrá-los quando se forem. Os filhos são criados por todos e não há órfãos. A Wycllife trabalha há décadas com uma das etnias, os Bichaboln. Nós iniciamos o trabalho com uma segunda etnia, os Bimonkpeln e ouvimos recentemente sobre um esforço Metodista planejando alcançar a terceira etnia, os Bisachuln. Deus parece ter um plano para este povo.
Um recente encontro com o Pr. Ghunter que, junto com Dona Wanda, trabalha há 46 anos entre os Xerente no Brasil foi um encorajamento. Falaram-me sobre suas lutas e vitórias, alegrias e esperanças e deram-me preciosos conselhos de alguém que já passou por este caminho e seguiu bem mais além com testada experiência e zelo. Ao fim ensinaram uma verdade conhecida mas pouco lembrada: a experiência do nativo ao ler a Palavra em sua língua é equivalente a você estar em um país estrangeiro, solitário e perdido, e alguém lhe chamar pelo nome em seu próprio idioma. Em outubro deste ano, data da entrega do Novo Testamento, estaremos lá com a Igreja e nossa oração será: Que Deus fale poderosamente, em Limonkpeln, para os Konkomba-Limonkpeln de Gana.

Acesso em 22 de fevereiro de 2012, às 14:56 horas
Traduzido por Marcos Paulo da Silva Soares
Usado com permissão.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Tradutores da Bíblia: Luis de Caldeira (Século XVII)



Luis de Caldeira, jesuíta português, escreveu para o povo etíope certas obras em língua amhárica, tal como um calendário de festas segundo a contagem do ano etíope e colaborou com Luís de Acevedo, compatriota seu, na tradução do Novo Testamento para tal língua.



João 3:16 na escritura amhárica e língua amhárica


Acesso em 17 de fevereiro de 2012, às 18:07 horas
Traduzido por Marcos Paulo da Silva Soares
Usado com permissão.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Tradutores da Bíblia: Antônio Bruccioli (1495-1566)



Antonio Bruccioli, nascido em Florença em 1495 e morto em Veneza em 1566, foi um humanista italiano que por causa de suas ideias sofreu no próprio corpo os rigores da Inquisição. Em primeiro lugar por formar parte de uma trama em 1522 contra o Cardeal Giulio de Médici, que chegaria a ser o papa Clemente VII. Isso o levou a buscar refúgio Lyon. Depois da queda dos Médici, voltou a Florença em 1527 e escreveu contra os abusos eclesiásticos, o que lhe a acusação de ter se convertido ao luteranismo. Por isso, teve que se exilar de novo, porém em outro local: Veneza. Ali traduziu a Bíblia para a língua italiana (1532). Para isso, utilizou versões latinas para o Novo Testamento de Erasmo e para o Antigo Testamento usou a versão de Sacntes Pagnino. Esta tradução poderia ter se tornado a tradução dos protestantes italianos, no entanto, essa posição foi ocupada pela tradução de Diodati.
Sua tradução da Bíblia e os comentários bíblicos que escreveu (7 volumes 1542-1546)  chamaram a atenção da Inquisição. Por três vezes, foi acusado de ser luterano. Na primeira sentença (1548) foi multado e exilado em Ferrara. Na segunda (1555), ordenaram que ele se retratasse e fizesse penitência. Mas de nada adiantou, ele se negou a fazer isso. Na terceira tentativa (1558-1559), ao torna a negar-se, foi encarcerado.
Além de traduzir a Bíblia, Bruccioli traduziu a Historia Natural de Plínio, o Velho e escreveu uma série de  tratados filosóficos.


Acesso em 21 de janeiro de 2012, às 19:33 horas
Traduzido por Marcos Paulo da Silva Soares
Usado com permissão.

quinta-feira, 1 de março de 2012

TRADUZIR NÃO É UMA OPÇÃO


Tyler Kenney

Faz um bom tempo que o inglês é a língua de maior prestígio no mundo. Se ele alcança tantos lugares assim, por que nós da Desiring God procuramos traduzir nossos recursos para outras línguas? Por que não usamos a mesma parcela de tempo, dinheiro e empenho para ensinar inglês às pessoas a fim de que usarmos nossos recursos em lugar de termos que trabalhar duro (e, às vezes, confusos) para traduzi-los para essa ou aquela língua?
Para responder a essa e outras questões sobre tradução, eu escrevi um artigo com o título “Uma Justificativa para a Tradução”. Esta é principalmente uma tentativa de melhor aplicar o conteúdo que os especialistas Andrew Walls e Lamin Sanneh têm apresentado sobre o assunto.
Se você não tem tempo para ler o estudo na íntegra e deseja conhecer a ideia principal, aqui está um breve resumo:
1.   Tradução é essencial para a fé cristã porque é um componente central do evangelho de Jesus Cristo.
o    A encarnação de Jesus foi um ato de tradução. Ao traduzir sua história para uma nova língua e nova cultura é como Ele encarna-se novamente.
o    Jesus tornou-se uma pessoa comum em sua encarnação e a tradução para as línguas vernáculas é o único meio de Jesus alcançar os homens, mulheres e crianças comuns de hoje. 
2.    Tradução é essencial para a fé cristã porque ela é o modo de Deus abençoar seu povo visando seu crescimento e maturidade.
o    A História ensina-nos que a Igreja para sobreviver e crescer teve de mover-se de uma cultura para outra e isso exigiu tradução.
o    Assim como as igrejas locais não podem crescer em direção a plenitude de Cristo se não estiverem presentes e ativas em todos os lugares, assim também o Corpo Universal de Cristo não chegará à maturidade até que toda tribo, língua e nação esteja contribuindo com seus dons unicamente dados por Deus!
3.   Aplicação:
o    Devemos cuidar da tradução e priorizá-la, principalmente com respeito à tradução da Bíblia.
o    Devemos traduzir as obras de John Piper e outros autores, junto com a Bíblia, porque ajuda a muitas pessoas a ler e compreender as Escrituras por si mesmas.



Acesso em 17 de fevereiro de 2012, às 18:11 horas
Traduzido por Marcos Paulo da Silva Soares
Usado com permissão.




Sons e Línguas - O Fazer Missões através da Tradução da Bíblia em Poesia

Abaixo segue o texto do Folheto Sons e Línguas, da Missão ALEM, que descreve de modo singelo o trabalho do missionário-tradutor de Bíblia...